Desiniba-se! Declame com a Escola Portátil de Oratória: "A flor e a náusea" A rosa do povo-1945

Olá! Escrever em versos também é uma forma de narrar fatos desde a Antiguidade Clássica.

Gosto desse poema do Drummond, "A flor e a náusea" publicado no livro A rosa do povo em 1945, pois sem que ele diga diretamente, traz informações muito sérias e profundas.

Resolvi compartilhar com você e convidá-lo a declamar. Quem sabe fura a monotonia, o medo, o tédio livre durante essa pandemia? Ou, ainda, queira fazer coisas  que não se daria ao direito antes de março...?

No  final, dou dicas de leitura, algumas sugestões de como trabalhar a sua expressividade e desinibir-se. Você pode melhorar muito a sua capacidade de falar em público utilizando a força de textos como esses, sozinho ou compartilhando com os amigos.

Vamos lá?

A flor e a náusea [Carlos Drummond de Andrade]

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

[A rosa do povo-1945]

Vamos entender a diferença entre poema, soneto e poesia? Ou ainda, análises mais profundas desse texto?

Clique nesses links, que recomendo e veja:https://www.diferenca.com/poema-e-poesia/

Quer ver uma possível análise desse texto em um artigo universitário? file:///C:/Users/lucia/Desktop/A%20ARTE%20DE%20CONTAR%20HIST%C3%93RIAS/A%20flor%20e%20a%20n%C3%A1usea.pdf


Sugestões para compreender a intensidade desse texto:

1. Faça, antes, uma "Leitura de mesa", ou seja, leia para conhecer o poema, como você anda por um lugar, pela primeira vez, e somente vasculha, explora, sem a necessidade de aprofundar-se.

2.Depois, vá descobrindo, aos poucos, as nuances. Faça anotações. Identifique as imagens que este traz, as críticas e leia em voz alta, várias vezes. Faça pausas em lugares diferentes, respire mais em outros. Module a voz.

3.Atente-se não só para o escrito, mas o não-escrito. O que será que está por detrás desse texto. Qual a ideia central? A intenção do autor?



4.Se gostar deste, antes de ler outros dele, pesquise sobre a época em que foi escrito, o momento de vida do autor. Compreenda o contexto. Se quiser, me mande o áudio com sua leitura pelo celular: (31)99697.7843



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