A fascinante trajetória do Empreendedorismo Estrutural das mulheres de Sabará: dos ofícios das Quitandeiras e Negras de Tabuleiro até os Festivais de Gastronomia - Jabuticaba, Orapronobis e Banana - Parte 1 "A origem"


Podemos concordar que Sabará é uma galeria ao céu aberto tamanha é a beleza de seu conjunto de bens tombados e por isso já reconhecidos pelo IPHAN, mas neste período da Quaresma vamos falar do feminino inquestionável que, anualmente, movimenta a cidade com seus festivais gastronômicos. 
Quando criamos o NEHCCAO- Núcleo de Estudos Histórico-Culturais/ Ofícios a tarefa ficou um pouco mais delicada porque além de compreender os ofícios masculinos, por meio de Aleijadinho, também deveríamos resgatar a imagem da sua mãe, sua face Africana. 

Fascinante como as mulheres Sabarenses são especialialistas em consolidar costumes ancestrais de forma consistente a ponto de alguns deles se transformarem em Patrimônio Imaterial e fonte de renda não só para a individualidade, mas toda cidade e região.
Os resultados atingidos são o nosso foco pois explica a veia empreendedora da mulher Sabarense, herdada das avós, mães, tradicionais supridoras de afeto e alimentos que tornam mais apetitosa a história de nosso Estado.
Arrisco, neste artigo, dar o nome de Herança Cultural e, pela extensão do assunto escreveremos este artigo em duas partes. 
A primeira tratará da ocupação do território das Minas Gerais do Período Colonial com a presença das Negras de Tabuleiro e/ Quitandeiras, buscando a herança deixada por elas na vida comercial de Sabará com seus restaurantes, feiras, criação de produtos e serviços.
Na segunda parte, o turismo e a movimentação do setor gastronômico na cidade e distritos: Pompéu, Ravena.
Como compreender porque os três festivais gastronômicos da cidade foram criados e são liderados pelas tão bem comportadas mulheres Sabarenses? Vamos voltar um pouco na história? 
Segundo historiadores, (você pode conferir parte da lista no final deste artigo) antes mesmo da chegada dos europeus e da  captura de africanos para servirem de mão de obra escrava, havia um intenso comércio liderado por mulheres dentro da África e que não eram responsáveis só pelo provimento de produtos para o comércio local, elas também eram responsáveis pela comunicação entre lugares como lideranças empreendedoras.
No texto "Conexões e identidades de gênero no caso Brasil e Angola , Sécs. XVIII-XIX" de
Selma Pantoja
temos a pesquisa da história de Angola, que aborda as "relações de
gênero" do Atlântico Africano e as necessidades do pequeno
comércio ou do trabalho agrícola, para o suprimento de produtos de primeira necessidade, observando as pequenas comerciantes das cidades ( as quitandeiras),
para as donas de terras com o cultivo de alimentos básicos ( as donas de arimos), 
 (...) mulheres livres e escravas."
 Deste ponto de vista, a experiência
vivida por mulheres brancas e negras no quadro da expansão marítima portuguesa, identifica como "mecanismos de
implantação dos Impérios europeus" integrado com a atuação das quitandeiras e suas habilidades comerciais pré-existentes. Práticas ancestrais dentro do imenso território do Continente Africano.

Para consolidação e funcionamento de centros urbanos como Sabará,  desde a descoberta,  havia necessidade do plantio de pequenas lavouras e formas de circulação de serviços e alimentos. 
Estes ofícios, em versão moderna, identificam as empreendedoras desde então, produtoras e comerciantes. Observados os ofícios da cadeia produtiva como um todo: plantio de hortas domésticas, cultivo, colheita, processamento, embalagens, logística de entrega e vendas nos centros urbanos e regiões. Sem proteção institucional, na base do preconceito, apagamento  e exclusão, inclusive dos livros tradicionais de história do ensino formal. 
Aprofundando em Minas do período colonial teremos as Negras de Tabuleiro.
Neste verbete do "Dicionário Histórico das Minas Gerais-Período Colonial" organizado por Adriana Romeiro e Ângela Viana Botelho, define-se assim: 
"Vendedoras ambulantes que percorriam as ruas dos arraiais, das vilas e cidades da América Portuguesa, como Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, comercializando mercadorias as mais diversas, como pastéis, doces, mel, leite, frutas, aguardente etc. Constituíam uma categoria profissional urbana, existindo negras de tabuleiro escravas, crioulas e africanas, libertas e livres, pretas, mulatas e brancas." Liana Maria Reis, páginas 211 e 212. Editora Autêntica: Belo Horizonte. 2004.



Busque o tema em outros autores como: Eduardo França Paiva, Emmanuel Araújo, Luciano Raposo de A. Figueiredo, Laura de Mello Souza e, para este texto: Liana Maria Reis em "Mulheres de ouro: as negras de tabuleiro nas Minas Gerais do século XVIII."
Selma Pantoja: https://www.escavador.com/sobre/1223841/selma-alves-pantoja
Por Lucia Tania Augusto

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