Escritores são como gatos ou o encontro com o arquétipo

Segundo Luiz Ruffato, "os escritores se identificam com os gatos, porque, como eles, esses felinos são introspectivos e amigos do silêncio." Nas minhas pesquisas sobre contação de histórias, narratologia e etnografia digital encontrei-me neste arquétipo (modelo). Não estou me comparando a escritores e escritoras já consagrados, porém precisava me harmonizar com esta nova carreira e escolhi o gato. Desde já, esclareço que não tenho nenhum bichano e nem desejo ter. Quem conhece o trabalho de Joseph Campbell e, seu mais fiel escudeiro, Christopher Vogler, sabe do quanto é precioso o conceito de arquétipo para a vida real, cotidiana. Jung, nos ensinou a contemplar não só o mundo racional, mas o simbólico. Ancorei a minha vontade nessa ideia: é preciso um arquétipo forte o suficiente para auxiliar na travessia. Pode ser uma mudança de carreira, uma nova forma de ver a vida, um novo amor, um desafeto que ronda a sua sanidade. O motivo não importa e, creio eu que está de bom tamanho.
==>Jung, em "O homem e os seus símbolos", afirma: "O animal, que é no homem a sua psique instintiva, pode tornar-se perigoso, quando não é reconhecido e integrado na vida do indivíduo. A aceitação da alma animal é a condição da unificação do indivíduo, e da plenitude do seu desabrochamento".http://blog-psique.blogspot.com/2011/03/o-animal-no-sonho.html em 22/03/2021.
==> Vogler, em "A jornada do escritor - Estruturas míticas para contadores de histórias e roteiristas" afirma: "Uma compreensão dessas forças é um dos elementos mais poderosos no baú de truques de um moderno contador de histórias" [...] "O conceito de arquétipo é ferramenta indispensável para se compreender o propósito ou função dos personagens em uma história." página 48, da edição 1997.
Percebi que para ser amiga das palavras, deveria ser amiga do silêncio, da noite e estabelecer outros ritmos. Mais feminina, mais macia porém, não menos selvagem. No gato:
" (...)a imagem evoca flexibilidade, disponibilidade para a transformação, plasticidade da conduta, da feminilidade, do mistério; Independência, é ele que nos escolhe... Se um gato aceitar seu carinho na certa você é um privilegiado, ou do contrário, ele foge e se encolhe...., a leitura do felino é direto na alma. - Numa abordagem psicológica diz-se que o animal irracional somos nós, as energias vitais do instinto que se agitam em nós, e que por vezes tomam o comando e nos controlam." Fonte: http://blog-psique.blogspot.com/2011/03/o-animal-no-sonho.html
O ritmo da casa com minha presença muda, agora. Nestes silêncios, contemplaçõe e percepção destes ritmos internos durante a escrita descobri minha diversidade, as tais sete vidas dos felinos. Minha impulsividade na diária na palavra falada se transformaria na imprevisibilidade na escolha das palavras para jorrar versos e prosas na tela em branco. Frisons, uma necessidade da aventura em que não cabe medo, só coragem. Esta descoberta foi feita pela minha opção por iniciar a minha carreira pelo verso, poesia, por meio do livro "Profana: Poesia de rua" Ah! E como me descobri vivenciando o arquétipo da gata? Por que cresci com a liberdade da rua à minha disposição. Não rua não se demonstra medo, quando você para, olha e se coloca com altivez as pessoas te respeitam. Rua não é lugar de demonstrar medo...A noite e a rua são amigas. Minha glandula pineal anda bem antenada com as fases da lua. Não me comprometo com a coerência, me fiz amiga dos mistérios... Há uma paciência na espera das palavras como brincar com uma bola lã. E o cheiro? Ah! O cheiro... risos Nessa ambiguidade latente: Cedo não é tão tarde, tarde ainda é muito cedo. Sou presença macia, desde que não cerceem a minha liberdade... Talvez seja assim mesmo ser escrita-felina: agressiva, torneada na rua, de raios de lua, se saio e não sei se volto mais. Depende. Dupla atenção: na vida cotidiana, na vida extraordinária, criativa. Os acessos sensíveis aos vários mundos que coabitam. Percebendo não somente o dito, mas principalmente o não-dito. Desdobramento... Nos textos sem vergonha de ser afetiva ponho-me a ronronrar... Leia alguns artigos interessantes sobre Escritores e Gatos (todas as consultas em 22/03/2021): 1.https://brasil.elpais.com/babelia/2020-02-17/de-balzac-a-cortazar-quem-sao-os-escritores-seduzidos-por-gatos.html 2.https://www.folhape.com.br/cultura/gatos-e-escritores-uma-relacao-de-afeto-e-inspiracao/150092/ 3.https://biblioteca.pucrs.br/curiosidades-literarias/voce-sabe-por-que-os-escritores-preferem-os-gatos/#:~:text=Na%20literatura%20os%20gatos%20sempre,do%20que%20%C3%A0%20sua%20fam%C3%ADlia.

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